Papel
do educador na educação lúdica
"A
esperança de uma criança, ao caminhar para a escola é encontrar um amigo, um
guia, um animador, um líder - alguém muito consciente e que se preocupe com ela
e que a faça pensar, tomar consciência de si de do mundo e que seja capaz de
dar-lhe as mãos para construir com ela uma nova história e uma sociedade
melhor".
(ALMEIDA,1987,p.195)
Para se
ter dentro de instituições infantis o desenvolvimento de atividades lúdicas
educativas, é de fundamental importância garantir a formação do professor e
condições de atuação. Somente assim será possível o resgate do espaço de
brincar da criança no dia-a-dia da escola ou creche.
Para nós a
formação do Educador Infantil, ganha em qualidade se, em sua sustentação,
estiverem presentes três pilares:
I.
Formação teórica
II.
Formação pedagógica
III.
Formação lúdica
A decisão
de se permitir envolver no mundo mágico infantil seria o primeiro passo que o
professor deveria dar. Explorar o universo infantil exige do educador
conhecimento teórico, prático, capacidade de observação, amor e vontade de ser
parceiro da criança neste processo. Nós professores podemos através das
experiências lúdicas infantis obtermos informações importantes no brincar
espontâneo ou no brincar orientado. Estas descobertas podem definir critérios
tais como:
· A duração do
envolvimento em um determinado jogo;
· As competências
dos jogadores envolvidos;
· O grau de
iniciativa, criatividade, autonomia e criticidade que o jogo proporciona ao
participante;
· A verbalização e
linguagem que acompanham o jogo;
· O grau de
interesse, motivação, satisfação, tensão aparente durante o jogo (emoções,
afetividade etc.);
· Construção do
conhecimento (raciocínio, argumentação etc.);
· Evidências de
comportamento social (cooperação, colaboração, conflito, competição, integração
etc.).
A
aplicação de jogos, brincadeiras e brinquedos em diferentes situações
educacionais podem ser um meio para estimular, analisar e avaliar aprendizagens
específicas, competências e potencialidades das crianças envolvidas.
No brincar
espontâneo podemos registrar as ações lúdicas a partir da: observação,
registro, análise e tratamento. Com isso, podemos criar para cada ação lúdica
um banco de dados sobre o mesmo, subsidiando de forma mais eficiente e
científica os resultados das ações. É possível também fazer o mapeamento da
criança em sua trajetória lúdica durante sua vivência dentro de um jogo ou de
uma brincadeira, buscando dessa forma entender e compreender melhor suas ações
e fazer intervenções e diagnósticos mais seguros ajudando o indivíduo ou o
coletivo. As informações obtidas pelo brincar espontâneo permitem diagnosticar:
· Idéias, valores
interessantes e necessidades do coletivo ou do indivíduo;
· Estágio de
desenvolvimento da criança;
· Comportamento dos
envolvidos nos diferentes ambientes lúdicos;
· Conflitos,
problemas, valores etc.
Com isso
podemos definir, a partir de uma escolha criteriosa, as ações lúdicas mais
adequadas para cada criança envolvida, respeitando assim o princípio básico de
individualidade de cada ser humano.
Já no
brincar dirigido pode-se propor desafios a partir da escolha de jogos,
brinquedos ou brincadeiras determinadas por um adulto ou responsável. Estes
jogos orientados podem ser feitos com propósitos claros de promover o acesso a
aprendizagens de conhecimentos específicos como: matemáticos, lingüísticos,
científicos, históricos, físicos, estéticos, culturais, naturais, morais etc. E
um outro propósito é ajudar no desenvolvimento cognitivo, afetivo, social,
motriz, lingüístico e na construção da moralidade (nos valores).
Segundo o
professor ALMEIDA (1987) a educação lúdica pode ter duas conseqüências,
dependendo de ser bem ou mal utilizada:
I. A
educação lúdica pode ser uma arma na mão do professor despreparado, arma capaz
de mutilar, não só o verdadeiro sentido da proposta, mas servir de negação do
próprio ato de educar;
II. A
educação lúdica pode ser para o professor competente um instrumento de
unificação, de libertação e de transformação das reais condições em que se
encontra o educando. É uma prática desafiadora, inovadora, possível de ser
aplicada.
Sobre este
tema do papel do educador como facilitador dos jogos, das brincadeiras, da
utilização dos brinquedos e principalmente da organização dos espaços lúdicos
para criança de 0 a 6 anos muito poderia ser dito, mas gostaríamos de chamar
atenção sobre alguns aspectos considerados importantes para facilitar a relação
da criança e do professor nas atividades lúdicas. Estas informações foram
tiradas do projeto "Brincar é coisa séria" desenvolvido pela Fundação
Samuel - São Paulo, em campanha realizada em 1991, p.8, 9 e 10.
Segundo
REGO (1994), autora da obra citada, o papel do educador é o seguinte:
· O educador tem
como papel ser um facilitador das brincadeiras, sendo necessário mesclar
momentos onde orienta e dirige o processo, com outros momentos onde as crianças
são responsáveis pelas suas próprias brincadeiras.
· É papel do
educador observar e coletar informações sobre as brincadeiras das crianças para
enriquecê-las em futuras oportunidades.
· Sempre que
possível o educador deve participar das brincadeiras e aproveitar para
questionar com as crianças sobre as mesmas.
· É importante
organizar e estruturar o espaço de forma a estimular na criança a necessidade
de brincar, também visando facilitar a escolha das brincadeiras.
· Nos jogos de
regras o professor não precisa estimular os valores competitivos, e sim tentar
desenvolver atitudes cooperativas entre as crianças. Que o mais importante no
brincar é participar das brincadeiras e dos jogos.
· Devemos respeitar
o direito da criança participar ou não de um jogo. Neste caso o professor tem
que criar uma situação diferente de participação dela nas atividades como:
auxiliar com materiais, fazer observações, emitir opiniões etc.
· Em uma situação de
jogo ou brincadeira é importante que o educador explique de forma clara e
objetiva as regras às crianças. E se for necessário pode mudá-las ou adaptá-las
de acordo com as faixas etárias.
· Estimular nas
crianças a socialização do espaço lúdico e dos brinquedos, criando assim o hábito
de cooperação, conservação e manutenção dos jogos e brinquedos. Exemplos:
"quem brincou guarda"; "no final da brincadeira todos ajudam a
guardar os materiais" etc.
· Estimular a
imaginação infantil, para isso o professor deve oferecer materiais dos mais
simples aos mais complexos, podendo estes brinquedos ou jogos serem
estruturados (fabricados) ou serem brinquedos e jogos confeccionados com
material reciclado (material descartado como lixo), por exemplo: pedaço de
madeira; papel; folha seca; tampa de garrafa; latas secas e limpas; garrafa
plástica; pedaço de pano etc. Todo e qualquer material cria para a criança uma
possibilidade de fantasiar e brincar.
· É interessante que
o professor providencie para que as crianças tenham espaço para brincar (área
livre), e que possam mexer no mobiliário, montar casinhas, fazer cabanas,
tendas de circo etc.
· O professor deve
dar o tempo necessário às crianças para que as brincadeiras apareçam, se
desenvolvam e se encerrem.
· Ser aquele que
coordena sua ação a ação da criança, pelo conhecimento e ligação com as emoções
desta.
RIZZO
(1996) em seu livro "Jogos Inteligentes" analisa com muita
propriedade alguns aspectos necessários para que um bom educador possa realizar
sua atividade com crianças pequenas. Para a autora o educador:
· Deve ser um líder
democrático, que propicia, coordena e mantém um clima de liberdade para a ação
do aluno, limitado apenas pelos direitos naturais dos outros.
· Deve atuar em
sintonia com a criança para estabelecer a necessária cooperação mútua.
· Precisa ter antes
construído a sua autonomia intelectual e segurança afetiva.
· Precisa aliar a
teoria à prática e valorizar o conhecimento produzido a partir desta.
· Deve jogar com as
crianças e participar ativamente de suas brincadeiras, talvez seja o caminho
mais seguro para obter informações e conhecimentos sobre o mundo infantil.
(RIZZO, 1996, p.27 e 29)
Espera-se
que as sugestões acima possam abrir novos horizontes, reflexões e
questionamentos para o educador infantil, e que com isso ele possa desenvolver
atividades mais conscientes e seguras.
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